quinta-feira, 29 de agosto de 2019

AS CORES GALDINAS

Vi tuas cores:
Psicodeliquei.
Haviam ali todas as flores?
Não vi fantasmas de pássaros,
Nem borboletas de vidro.
Apenas teus sorrisos:
Um ninho.
O verde dos olhos e
O vermelho do vinho.
Qual as cores da fome?
Serão as mesmas do delírio?
Os versos do poema
Deslizam na foto:
O amor em cores.
Os signos não são o real?
Existe alguém,
Nina,  que não se
Apaixone pelo arco-iris
Neste planeta verde
E vermelho?

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

FUNCIONÁRIO PÚBLICO

Exageradamente infeliz.
Prisioneiro.
Longe do sol e da vida,
aqui nesta sala onde ganho o meu pão
e minha vodca.
Onde perco minha felicidade, minha sanidade.
A burocracia vai me enlouquecendo.

Burocrata,
copio a cópia de relatórios técnicos
que mesmo copiado são revisados.
Relatórios técnicos
que nada tem a dizer,
a não ser: tédio, vaidade, futilidade.

A tristeza me invade como uma onda
onde afogo-me de corpo, alma e desespero.
Preciso do mar, preciso do sol, preciso sorrir.
Preciso da música e beber qualquer coisa que contenha álcool.
Libertar meus olhos da tela do computador,
o meu corpo da sala com ar-condicionado,
a minha alma da catraca do ponto,
fugir da monotonia, da monotonia, da monotonia…

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

PARA ALEGRAR A VELHICE

Beber um copo d'água no escuro
– ou de olhos fechados –
e se transformar em um rio não sagrado.

Banhar-se sempre que estiver cansado,
descarregando tonelada de dores
que habitam o corpo e as memórias.

Dormir com a pessoa amada
sem precisar fazer sexo
ou se preocupar por não fazê-lo.

Acordar com o cheiro de um bom café,
servido na sua xícara proferida,
cantarolando aquela canção do Chico.

Trazer a mente, sempre e quando quiser,
as lembranças da infância, principalmente
aquelas vividas junto ao mar.

Recordar um amor não correspondido e sorrir,
lembrando que toda dor,
mas também toda felicidade, são passageiras.

Não ter inimigos pessoais, mas,
lutar sempre pela justiça e pão,
mesmo que isto gere inimizades e perseguições.

Deixar que as conversas com os amigos, os bêbados
e os poetas, sejam regadas a cervejas geladas
e acompanhadas de versos de Bandeira à maneira de ponche

Embriagar-se nos sorrisos dos netos
neófitos para o sofrimento
e famintos pelo aprendizado.

Morrer sem deixar nenhuma grande tarefa inconclusa,
por isso abuse sempre do amor, e se manter longe do engodo
que são as religiões e as mentiras, fábricas de ódio.

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

AOS DIAS VINDOUROS

Antes que a noite caia sobre os nossos ombros,
como antes noites tão densas nos sufocaram
e abafaram nossas vozes magras: oremos.

As dores que cheiravam a rosas queimadas
incensavam as ventas da pobre democracia
e leões bíblicos fardados e obedientes: devorava-nos.

Escondidos feito ratos em becos sujos
sonhávamos em densas cores a moribunda liberdade
ah esse monstro que é o fascismo, poderá ser derrotado?: lutemos.

O horror transforma o homem em fera.
Foi assim na Bastilha, será assim em todas as revoluções
A liberdade sem o pão é fera, sem a justiça é terror: devoremo-nos.

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

DE RITUAIS E COSTUMES

Quando eu morrer
nenhuma virgem jogará flores
em meu túmulo.

Nunca me relacionei bem com virgens,
que são mulheres ainda em gestação,
prefiro as mulheres já nascidas.

Serei cremado.
Sei que é menos poético,
mas, é mais higiênico.

As minhas cinzas joguem onde quiserem:
que não sejam entregues a nenhum fumante,
nem as guardem em túmulos bibelôs.

O mar seria um grande abrigo.
Mas também o campo. Talvez ao ar,
onde se dissiparão todas as dúvidas e dores.

Por fim, meu testamento não deve ser cumprido.
Se em vida minhas vontades foram reprimidas,
por que na morte me darão prazeres e voz?

Há de ter coerência toda a existência,
mas, também a sua ausência. O tudo e o nada
fazem um belo casamento, inclusive na morte.