UM POEMA DE AMOR

Quando te vi,

não sei o que pensaram meus olhos.

Não que meus olhos tenham-te esquecido,

sequer alguma parte do teu corpo.

Sempre te vi, e sempre te desejei.

Que força me joga a ti?

E ao suicida do décimo sexto andar?

Quando te vi,

não sei se tive vontade de morrer

ou de te dar um beijo.

Um longo e molhado beijo,

daqueles que nunca te dei.

CORAÇÕES E CORPOS

Rene Magritte

Abre teu corpo

ao meu coração,

já que não te posso

ter o coração.

Dá-me tua boca,

os teus seios,

tuas nádegas,

tua barriga, teus pés, tuas mãos

e  teus pêlos.

Abre teu coração

ao meu corpo,

já que não podemos

ser um só.

ALERTA

Perigo.

Alguma coisa acontece no país.

O homem na esquina tem fome

                    e uma bomba

                    dentro do peito. 

Por um pedaço de pão,

mataria o próprio Presidente da República.

O homem na esquina vendia pipocas,

                    na porta do circo,

                    na porta do bar,

                    na porta do cemitério,

                    na porta da puta que o pariu,

                    que pipocas é a solução para o Brasil.

Alguma coisa acontece no país.                   

Atenção, chacais,

                    atenção, hienas,

todos em trajes de gala,

                    a mesa está posta.

O homem na esquina precisa ser morto.

Ele tem fome e uma bomba

                    dentro do peito.

BANDEIRA

Abaixo todos os conceitos humanos.

Abaixo todos os homens que a si chamam justos.

Abaixo os usurpadores,

             os detentores do poder,

             os detentores das riquezas,

             com os monopolizadores,

             com os cães!

Abaixo com esse mundo sujo e canalha.

             Que uma linda bomba atômica

             c

               a

                 i

                   a sobre a cabeça de todos nós.