quinta-feira, 28 de junho de 2018

NÃO SEI SE É VÍRUS



Não sei se é vírus,
bactéria,
ou outra forma de vida
ou de não vida.

Só sei que a depressão
está comendo meu fígado.

Existe apenas um único remédio,
um único antídoto:
a solidariedade!

Mas, na sociedade capitalista
em que sobrevivo e cumpro pena,
a solidariedade é caçada,
qual uma barata imunda,
por ditadores, banqueiros, financistas,
pela imprensa “livre”,
por reizinhos, como aquele fascista espanhol,
e pela violenta e religiosa classe média.

Sei apenas que a depressão
está comendo o meu fígado.

O fígado tem a função de destilar
alegria,
foi o órgão criado com mais
carinho por Baco, quando, embriagado,
resolveu moldar, homem e mulher, do vinho.

Não sei se meu fígado resistirá,
- pois a depressão o está devorando –
se voltarei a beber e rir com os amigos,
sonhar com uma sociedade mais justa:
socialista, comunista, anárquica.

Quando isto acontecer,
homens e mulheres aprenderão
a cultivar a solidariedade,
que nos ensinar a amar
- mas de um amor que ainda não conhecemos -
ao próximo como a nós mesmos.

E neste dia,
que festa, que júbilo, que alegria!
Sei que não estarei vivo quando isto acontecer,
pois, a depressão está comendo o meu fígado
e sei que não resistirei.

Onde o remédio?
Onde o antídoto?
Onde a solidariedade?
Onde o amor pleno, que ainda não conhecemos?

quinta-feira, 21 de junho de 2018

HAVERIA MAIS ENCANTOS?


E se tudo fosse apenas o sorriso de Emília e o bater
leve do vento em nossos corpos?
E as lembranças caminhassem para orgasmos:
rápidos lances da infância,
haveria mais encantos?
Quantos prantos não se formariam tempestades?
Não creio apenas no simples fardo do existir,
mas também no valor da morte:
melhor que a eterna solidão.

quinta-feira, 14 de junho de 2018

TRANSEXUALIDADE


Sei que não deveria,
que deus com certeza me condenará.
Mas o que posso fazer?
Sou assim desde o início,
dos tempos de infância,
da cruel adolescência,
sempre fui e serei assim:
desde o início, até o fim.

Os meus amigos me rejeitarão,
os meus colegas de trabalho,
tão fúteis e hostis,
em suas viagens à Disney e a Miami,
falarão de mim,
apontarão seus dedos religiosos,
e rirão, rirão de mim.           

Alguém, um dia, com certeza me apoiará.
Porá a sua mão na minha mão,
dirá palavras de carinho e incentivo.
Sofrerei até lá.
Mas não posso, nem mais por um minuto,
esconder a minha essência,
a minha programação genética.
Assim me fez a natureza,
que posso contra ela?

Sim! Gritarei do mais alto púlpito: eu sou lésbico!
Não queria,
meus pais não queriam,
meu deus invisível não queria,
mas fui possuído por esse desejo
que é maior que o meu desejo.

Sou lésbico: adoro uma buceta!
Suas formas, seus pelos, sua pele de textura enrugada,
seu odor, cheiro, as suaves sensações,
sensíveis ao paladar.

Adoro uma buceta!

Adoro uma calcinha molhada,
uma coxa arrepiada,
as pernas em flagrante tentativa inútil de resistir:
aos meus dedos, a minha língua, ao meu pau.

Adoro uma buceta!

quinta-feira, 7 de junho de 2018