quinta-feira, 5 de outubro de 2017

CABO DE SANTO AGOSTINHO


Nunca vivi a minha infância qual um menino da minha idade
Minino! -,
caçar passarinho,
jogar bola em terreno baldio,
espiar as meninas nuas tomando banho de rio,
tomar banho de rio.

Meu refúgio foram os livros.

Como posso recordar, sem inveja, as lembranças de Bandeira,
Rua da União...

Feito um marginal,
a traição como matador de aluguel,
a poliomielite me atacou na esquina
(paradoxalmente, como amo os marginais!)
e as minhas pernas me fizeram mais falta na infância
do que um bom atacante às seleções de Telê Santana
(aquilo é que era futebol! Pura arte!
Mas faltava um atacante...)

Quando me tornei homem,
(confesso que hoje preferiria a infância,
mesmo sem as pernas!)
descobri que os livros
não preencheram os espaços
da falta de empinar papagaio,
de correr atrás de uma bola de gude,
de brincar de pega com as meninas na hora do recreio,
no pátio do colégio,
de namorar as putas no mato,
que nem Manuel e Java, filhos de Dona Terezinha,
Toinho, filho de Dona Cina,
meu irmão Itamárcio e o primo Itamar.

Que falta me molhar na chuva:
Não pude!

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