Nunca vivi a minha
infância qual um menino da minha idade
Minino! -,
caçar passarinho,
jogar bola em terreno
baldio,
espiar as meninas nuas
tomando banho de rio,
tomar banho de rio.
Meu refúgio foram os
livros.
Como posso recordar,
sem inveja, as lembranças de Bandeira,
Rua da União...
Feito um marginal,
a traição como matador
de aluguel,
a poliomielite me atacou na esquina
(paradoxalmente, como
amo os marginais!)
e as minhas pernas me
fizeram mais falta na infância
do que um bom atacante
às seleções de Telê Santana
(aquilo é que era
futebol! Pura arte!
Mas faltava um
atacante...)
Quando me tornei homem,
(confesso que hoje
preferiria a infância,
mesmo sem as pernas!)
descobri que os livros
não preencheram os
espaços
da falta de empinar
papagaio,
de correr atrás de uma
bola de gude,
de brincar de pega com
as meninas na hora do recreio,
no pátio do colégio,
de namorar as putas no
mato,
que nem Manuel e Java,
filhos de Dona Terezinha,
Toinho, filho de Dona
Cina,
meu irmão Itamárcio e
o primo Itamar.
Que falta me molhar na
chuva:
Não pude!
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