quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

O PESCOÇO



Peguei minha foice. Olhei para a serpente e disse: - Não se aproxime ou corto-lhe a cabeça. Ela olhou para mim, sorriu e perguntou: - Sabes ao menos onde fica meu pescoço?

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

UM BEIJO NO CORAÇÃO

Mandou-me, ela, um beijo
No coração. Corri, abri meus
Cofres, contei meus cobres.

Contratei o melhor cirurgião
Da pequena cidade
De minha meninice. Ele, habilmente,
Abriu-me o peito; cortando-me
A carne; cerrando-me os ossos.
E lá, dentro do coração, colocou
O beijo que, ela, de longe, mandara-me
Com tanto amor e carinho.

Morri, tenho certeza, do excesso
De carinhos e beijos que, ela, de
Longe, lá da distante infância, enviara
Ao meu poente coração.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

PRETO ANJO

A poesia me vem através de um anjo preto
Que, com suas asas, embala-me.
Iluminando, assim, a minha vida,
Alegrando-me o dia
E me leva a lugares que eu não conheceria
Se não tivesse lhe estendido as mãos
Sem medo, covardia ou pudor.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

CONFISSÃO

Fico com as Flores do Mal,
Nunca fui um cidadão de bem.
Preguiçoso para o trabalho,
Diligente quando o assunto é
Sexo, poesias e bebidas.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

CAPITÃO

Roque Braz

Sonhava em dominar o mar,
ser um grande Capitão,
mas nunca aprendeu a nadar.

Um barco,
azul, vermelho, amarelo.
Um grande mar azul,
a verde vegetação,
pássaros, peixes…
Eram seus sonhos recorrentes.

Viveu mal,
era um burocrata,
especialista na arte de bater o ponto.
Casou, não por amor
Mas por tradição.
Teve filhos,
não sabe quantos nem seus nomes.
Nunca viajou
a não ser em sonhos enferrujados.

Um dia, para não morrer,
tornou-se pintor.