quinta-feira, 29 de novembro de 2018

PARA ACABAR COM A FOME NO MUNDO

"Na realidade precisamos de muito pouco. Apenas uns dos outros."

(Eduardo Galeano)

Seguir sempre o caminho indicado pelo arco-íris.
Ao encontrar o pote cheio de moedas de ouro
trocá-las por milhares de borboletas azuis.
O pote guardará as águas límpidas que brotam em Marinaleda.
Andar a passos de lebre, onde caminham as revoluções.
Dançar ao som da nona sinfonia de Fela Kuti.
Transformar o mundo numa grande república socialista.

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

MININO

Eu era tão belo e acreditava em anjos.
Lia me cantava canções de ninar.
Feliz, o céu era azul e a vida prateada.
Chutado pela bunda e colhões conheci o mundo.
De nada adiantava querer acordar.
As horas passam, que canseira.
Espero apenas o último tic-tac-ar.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

ESTEATOSE

Abri a porta do tempo:
a solidão me deu bom dia!

Sorri em amarelo e corri em vermelho.

As tardes tiro para esquecer as pedras
- no meio do caminho, na vesícula, nos rins, no fígado.

No pranto os mesmos senões:
os nãos em profundas explosões,
os sins em extinção.

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

AMORES

O tempo assume sombras múltiplas.

Na infância tive um cão,
e ele morreu atropelado.

Na adolescência uma namorada,
que me trocou por um menino mais bonito.

Na velhice a solidão,
que não me larga as mãos.

Sem cão, sem namorada, de mãos vazias.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

VIA LÁCTEA

Onde a noite esquivou-se?
A tristeza é meu cão guia.
O amor, bebo-o em grandes goles com gelo.
A alienação parece ser a pílula da felicidade.
Em branco, passo a compor a vida.
Desejos retesados quais cordas de um violino.
Desejei-a durante todo setembro, não a tive.
Outubro seguiu o som dos mergulhos.
Novembro, fiz aniversário.
Não sou nada.
Ocupo apenas os espaços esquecidos.
Silêncio.
Ninguém me ouve.
Reverbero-me em conchas e cristais.
O espaço é meu rádio.
O tempo, tenho-o de sobra,
mas não o posso aprisionar.