terça-feira, 31 de março de 2015

terça-feira, 24 de março de 2015

OFERENDA


Divide o teu canto
com os sem voz e os tímidos.

Divide a tua luta com os fracos,
teu pão divide com os famintos,
assim como os teus livros, as tuas idéias.

O teu amor divide com todos que te amarem.

As tuas dúvidas procura decifrá-las,
haverá um tempo, não o teu tempo,
não o meu tempo,
em que elas não existirão.

Os teus desejos, sacia-os,
o corpo merece tanto quanto a alma
ou o espírito.

Por isso, reza,
e pede pelos sem-reza, pelos sem-pão,
pelos sem-trabalho, pelos sem-terra,
pelos doentes, pelos cansados,
pelos que lutam, pelos que são perseguidos.

As tuas dores que não puderes curar, suporta-as,
divide-as também com teus companheiros.

Que te importa, enfim, tua vida e teus prêmios,
o teu destino humano?

Empunha as armas que tiveres
e luta pela justiça.

terça-feira, 17 de março de 2015

PRAZERES

(Gaibu - Cabo de Santo Agostinho - Pernambuco)

Acordar cedo com o sol,
de preferência perto do mar.

Um ótimo livro pego ao acaso,
que é como descobrir um novo continente.

Um poema logo de manhãzinha
junto com o desjejum.

Estudar violão.

Escrever algumas páginas
de um novo livro.

Os contos fantásticos de Borges.

A noite e seus fluidos mágicos.

Corpo de mulher macio,
de preferência pequeno e frágil
como um bichinho de estimação.

Ler antes de dormir.
Dormir tarde da noite.


Musicada por Climério Filho
Gravada em 2002
CD "Maracatu pra ela"
https://www.youtube.com/watch?v=V9U-GGbzeWQ

terça-feira, 10 de março de 2015

DOS MÚSICOS

(Um tocador de realejo em Paris , fotografado por Eugène Atget,1898)

Há artistas, caro amigo,
nestas terras de canção,
que devoram os instrumentos,
não por virtuose,
que também o são,
mas por necessidade,
como se fosse pão.

terça-feira, 3 de março de 2015

IMPROVISO PARA OS SEM-TERRA



Para o MST e Dom Pedro Casaldáliga

Que a terra,
mãe de todos nós,
seio generoso e abundante
que se oferece
para saciar a fome de seus filhos,
sejam quantos forem,
torne-se livre.

Precisamos agir,
pois, se plantarmos, colheremos o fruto,
e gritar,
gritar a canção dos que se unem
e festejam a união
de caminhar num só sentido de lutas
e esperanças.

Que a terra seja liberta das cercas
que ferem as mãos calejadas dos homens.

Precisamos plantar,
não grilhões,
mas a árvore do alimento
             e do amor,
porque a fome é a primeira barreira
             a vencer,
e com a sua derrubada
o amor fluirá do homem,
companheiro nosso
na luta pela alegria,
             como um olho d’água vazado
             que forma um rio.

E a alegria é justiça e pão,
e a justiça e pão é paz,
             e a paz é o amor e o amor é Deus,
e Deus é a terra sua criação,
e a terra é de todos.