quinta-feira, 2 de maio de 2019

AUTORRETRATO

Plagiando Bandeira

Interiorano,
nascido na zona da mata pernambucana,
nunca soube
usar gravata:
- apenas no casamento,
quiçá na morte.
Cidadão do mundo,
odeia profundamente as fronteiras e ama os diferentes.
Poeta? Não sabe, não tem certeza...
Mas insiste.
Funcionário público cheio de poeira,
achou na poesia e no uísque
uma maneira
de respirar sob os escombros
da dita sociedade capitalista.
Quis ser músico, não tinha talento;
guerrilheiro, não pôde,
a pólio o acertou,
qual mercenário estadunidense,
numa esquina mal iluminada,
numa certa manhã de novembro.
Acreditou um dia em Deus, no outro em Nietzsche.
Em matéria de sonho: um suicida profissional.

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