quinta-feira, 4 de outubro de 2018

CINQUENTANOS

Quem é este que me olha do espelho
às seis da manhã
com os olhos ainda encharcados de sono?

De repente brincava de pião com os amigos de infância,
agora vejo, no reflexo do espelho, um homem cansado e incrédulo:
a face com rugas em que navegam sonhos não realizados.

O rosto no espelho me olha e pergunta-me quem sou.
Ontem, menino enamorado de minha primeira paixão,
hoje, avô e pai do meu pai a quem vejo, cada vez mais, em mim mesmo.

Espelho, por que não me avisaste que os anos passavam sem que eu percebesse?
Como? Me dizes que dia a dia me mostrasses o meu caminho sem volta?
Não vi, não percebeste? E o espelho sorrindo: “Agora é tarde! Agora é tarde!”.

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