quinta-feira, 23 de novembro de 2017

RÉQUIEM PARA MINHA MORTE



Abertura
Ao som de Tchaichovsky e Capiba

Cenário
Bares e poetas amigos (vivos ou ausentes)

Erickson
Conheci Erickson Luna no Chambaril do Júnior, no dia 30/11/04, sua voz tonitruante, seus livros, seus poemas, sua vontade de mudar o mundo, seu socialismo alcoólico, seu amor aos amigos... Tornamo-nos amigos, inevitável!

Conhecia o Poeta de histórias contadas pelo primo Ítalo - que conviveu e produziu músicas com ele quando eram jovens - que um dia, depois de morar 20 anos no Rio de Janeiro, perguntou-me: Erickson ainda é vivo?

Em “Do moço e do bêbado”:

"Bê-a-Bá"
“Bicados num beco de mim
aos baques
bradam Baco e Bakunin”

Espinhara
Era sério o Chico, reservado, sisudo, sempre de chapéu e o eterno amigo Bráulio a tiracolo. Não dava trela, mesmo no Quitanda Vinil - que tive a honra de batizar - eram sempre os dois. Olhávamos, questionávamos, pedíamos, brincávamos, mas aquela amizade era intransponível, que o diga Camila, a musa.

De
 “Bacantes” escolho o canto IX das “Pluralidades”:

“Tudo era muito fácil: não era uma questão de
um abrir e fechar de olhos, mas de um abrir e
fechar de pernas. Para ela era assim.”

Alberto
Ainda na adolescência, conheci Alberto da Cunha Mello, nos livros, é claro. Busquei alguns encontros, mas o cara era difícil. Fui músico, de péssima qualidade, escrevi alguns poemas de caráter duvidosos e assim a vida prosseguiu. Apenas uma vez ele leu um poema meu em um concurso da Católica,
 Apocalipse – em quatro cantos, e confessou – confessar é por minha conta – que o meu, era o melhor poema do concurso. Quase não dormi.

Do
 “Noticiário”:


“Rute,
a mundana do cais”

“Nem tudo e nem todos
Estão perdidos.
Só Rute e o Ocidente
estão perdidos.

Quando o garçom
jogou-lhe uma cadeira
e expulsou-a da terra,

o Time silenciou
e ‘O Estado de São Paulo’
escolheu divulgar
as últimas olimpíadas.

Um dia
o sol explodirá
e os maus também desaparecerão.
Que consolo, hein, Rute?”



França
Fumamos maconha juntos, em Olinda alta – dizíamos bonconha –
 eu, o poeta aleijado; França, Europa e Bahia, e o poeta Paper, compositor, filósofo e amigo. Conhecemo-nos no bar de Carlinhos Granja, onde fui levado por Erickson, para onde confluíam as boas almas e os loucos da cidade. Quem vive ainda?


De “Cafuné”, que pescamos em Interpoética:

“À MORTE
 – por ser imortal,
Ergo um brinde, dizendo:
-
 À NOSSA VIDA!
e ela responde ofendida:
-
 NÃO ME ESCAPARÁS!”


Grande Final
Erickson
 partiu. Tive a oportunidade de usufruir de sua cultura, inteligência e amizade.

Espinhara, conhecia apenas de vista, queria a sua amizade, mas ele vivia um momento especial em sua depressão cotidiana.

Alberto, nunca tive a oportunidade de, no bar do Seu Hélio, tomarmos uma cervejinha ou um uísque, às nove da manhã e conversarmos sobre poesia e a existência.

França, nunca vou me esquecer do nosso baseado compartilhado e da sua maneira ímpar e doce de reconhecer os amigos.

Já perdi tantos amigos, que tenho hoje um grande desejo, partir antes de vocês:
Carlos Granja, Chico Pena Branca, Adriel Evangelista e Carlos Maia.

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