quinta-feira, 30 de novembro de 2017

O GATO DE KAFKA


Todas as sextas-feiras,
aos finaizinhos das tardes,
assomam em mim vibrantes explosões da alma.
Serão também explosões do corpo?

Um enxame de flores, sensações e insetos,
desembocam num rio que trago escondido no peito.
Apenas Emília,
amor maior da minha infância, teve acesso às suas águas.

Mas Emília,
branca como um anjo de uma asa só,
morreu...

Um dia, depois ler Kafka,
tomar uma limonada e sonhar:
transformou-se em pássaro.
Um pássaro mais lindo
que o amanhecer em Pontas de Pedra;
mais lindo que os sorrisos
de Claras, Rosas, Lourdes...
Inebriante pássaro, mais lindo que o próprio sorriso de Emília!

Mas uma noite, enquanto cantava,
um gato a devorou...
Meu Deus...
Apenas Emília e o mar faziam-me felizes.
Nessas horas, nesses instantes de lembranças, saudades e medos,
vibro-me, uma corda retesada, um epilético,
um quase morto.

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