Abertura
Ao som de Tchaichovsky e Capiba
Cenário
Bares e poetas amigos
(vivos ou ausentes)
Erickson
Conheci Erickson Luna no Chambaril do Júnior, no dia 30/11/04, sua voz
tonitruante, seus livros, seus poemas, sua vontade de mudar o mundo, seu
socialismo alcoólico, seu amor aos amigos... Tornamo-nos amigos, inevitável!
Conhecia o Poeta de histórias contadas pelo primo Ítalo - que conviveu e
produziu músicas com ele quando eram jovens - que um dia, depois de morar 20
anos no Rio de Janeiro, perguntou-me: Erickson ainda é vivo?
Em “Do moço e do bêbado”:
"Bê-a-Bá"
“Bicados num beco de mim
aos baques
bradam Baco e Bakunin”
Espinhara
Era sério o Chico, reservado, sisudo, sempre de chapéu e o eterno amigo Bráulio
a tiracolo. Não dava trela, mesmo no Quitanda Vinil - que tive a honra de
batizar - eram sempre os dois. Olhávamos, questionávamos, pedíamos,
brincávamos, mas aquela amizade era intransponível, que o diga Camila, a musa.
De “Bacantes” escolho o canto IX das “Pluralidades”:
“Tudo era muito fácil: não era uma
questão de
um abrir e fechar de olhos, mas de
um abrir e
fechar de pernas. Para ela era
assim.”
Alberto
Ainda na adolescência, conheci Alberto da Cunha Mello, nos livros, é claro.
Busquei alguns encontros, mas o cara era difícil. Fui músico, de péssima
qualidade, escrevi alguns poemas de caráter duvidosos e assim a vida
prosseguiu. Apenas uma vez ele leu um poema meu em um concurso da Católica, Apocalipse – em quatro
cantos, e
confessou – confessar é por minha conta – que o meu, era o melhor poema do
concurso. Quase não dormi.
Do “Noticiário”:
“Rute,
a mundana do cais”
“Nem tudo e nem todos
Estão perdidos.
Só Rute e o Ocidente
estão perdidos.
Quando o garçom
jogou-lhe uma cadeira
e expulsou-a da terra,
o Time silenciou
e ‘O Estado de São Paulo’
escolheu divulgar
as últimas olimpíadas.
Um dia
o sol explodirá
e os maus também desaparecerão.
Que consolo, hein, Rute?”
França
Fumamos maconha juntos, em Olinda alta – dizíamos bonconha – eu, o poeta aleijado; França, Europa e Bahia, e o
poeta Paper, compositor, filósofo
e amigo. Conhecemo-nos no bar de Carlinhos Granja, onde fui levado por
Erickson, para onde confluíam as boas almas e os loucos da cidade. Quem vive
ainda?
De “Cafuné”, que pescamos em Interpoética:
“À MORTE – por ser imortal,
Ergo um brinde, dizendo:
- À NOSSA VIDA!
e ela responde ofendida:
- NÃO ME ESCAPARÁS!”
Grande Final
Erickson partiu. Tive a oportunidade de
usufruir de sua cultura, inteligência e amizade.
Espinhara, conhecia apenas de
vista, queria a sua amizade, mas ele vivia um momento especial em sua depressão
cotidiana.
Alberto, nunca tive a
oportunidade de, no bar do Seu Hélio, tomarmos uma cervejinha ou um uísque, às
nove da manhã e conversarmos sobre poesia e a existência.
França, nunca vou me
esquecer do nosso baseado compartilhado e da sua maneira ímpar e doce de
reconhecer os amigos.
Já perdi tantos amigos, que tenho hoje um grande desejo, partir antes de vocês:
Carlos Granja, Chico Pena Branca, Adriel Evangelista e Carlos Maia.