"Mas havia o sol da manhã e o rum
que eu sabia vinha de Cuba
junto com uma grande dose de igualdade."
Aos dez anos de idade,
o meu mundo ainda era azul,
apesar da poliomielite
que aos poucos
enegrecia meu coração,
transformando minhas
pernas em fardos
e em poesia as de
Garrincha.
Baleias, também azuis,
navegavam na minha
imaginação
e nos mares de Pontas
de Pedra e Gaibu.
Pensamentos, palavras, mulheres nuas
e o frevo me
esquentavam a alma
junto com marchinhas
de carnaval.
E as colchas de
retalhos de Vó Lídia
esquentavam minhas
pernas
nas noites frias de
minha vida.
Mas havia o sol da
manhã e o rum
que eu sabia vinha de
Cuba
junto com uma grande
dose de igualdade.
E tudo enchia os meus
olhos e a minha vidinha:
mulheres de verdade
desfilavam de biquínis
e elas enchiam meus
olhos
e me torturavam de
desejos.
Era doce a vida, era
doce o mar,
ainda não havia a
desilusão do amor,
da amizade e da
política.