terça-feira, 31 de maio de 2016

LEMBRANÇAS


Teus olhos continuavam quase da cor do mar.
Como se mudassem a cor dos olhos.
O que muda, sim, é a lembrança.

Não havia mais aquela promessa de amor
em teu rosto.

Vago,
o vento anunciava a tua plenitude.
Ah a seda de tuas faces!
Ah a fibrosa carnosidade de fruta de tua boca!

Imaginei teu hálito.
Quem me dera poder...
Qual deus permitiria senti-lo
novamente em meu rosto.

Ah o fresco hálito do teu respirar!
Ah o transpirar do teu corpo!

Ah a beleza! A tua beleza.
A extrema beleza física que irradias.

És como o fogo ou o sol,
cegas a quem te admira.

E pensar que toda aquela beleza
a tive em minhas mãos,
em outras épocas,
em que também havia a estupidez.

E pensar em toda aquela beleza
em minhas mãos,
mãos que hoje choram,
sim, choram as mãos,
cala-se a boca,
e os olhos não creem.


sexta-feira, 27 de maio de 2016

RETRATO


Tua lembrança
é este retrato na parede.

Único visível adereço
nesta imensa sala vazia,
desta grande casa vazia
que se tornou a minha existência.


segunda-feira, 23 de maio de 2016

ODE ÀS TUAS COXAS

Resultado de imagem para MULHERES COM belas coxas

O cheiro das flores
e o leve aroma das tuas coxas.

A leveza da seda
e a leve textura da pele
        que encobre as tuas coxas.

O sabor da fruta
e o paladar intenso que desperta
        o contato da minha língua
nas tuas coxas.

O mistério da vida
e o segredo que encobre
        o teu púbis,
engenhosamente centrado
entre as colunas
        que são as tuas coxas.


Os prazeres mais diversos
não são tão intensos
        quanto penetrar-te
vencendo a robustez das muralhas
que são tuas coxas.


sexta-feira, 20 de maio de 2016

ENTRE O MEU CORPO E OS MEUS BRAÇOS


Entre o meu corpo e os meus braços:
o nada.
Obelisco ao deus solidão.

O nada,
tão intenso quanto inexorável
ferindo-me a alma sem ser remorso
e ao corpo sem ser lança.

A tua mão,
que em vão tento alcançar,
guiar-me-ia fora deste labirinto
qual o fio de Ariadne guiou Teseu.

Mas estás distante.
E és como a felicidade, inalcançável,
ou a justiça, inatingível.


E o meu corpo
e a minha alma
buscam alimento nas orgias,
os triúnviros, poesia, álcool e sexo,
para espantar o fantasma da demência
e o medo de desistir.


segunda-feira, 16 de maio de 2016

POR ESTES DIAS


Por estes dias
a poesia tem chegado a mim
aos borbotões.

Se durmo,
em sonhos ela vem.

Se falo,
como se em línguas falasse,
ela surge.

Se amo,
envolvido com o suor dos corpos,
ela se disfarça, e nasce.

Mas nem sempre foi assim.

Devo aproveitar a chuva,
que a colheita seja farta
e os meus celeiros encham.

Embora às vezes ela me assalte
como um ladrão,
às vezes,
como aos solitários,
me falta, qual amante.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

NO DIA EM QUE SOUBEMOS QUE VINHAS



No dia em que soubemos que vinhas,
eras uma ideia, ainda,
um projeto,
sem traço, sem risco,
um sonho.

Mas agora vens,
já és vida,
matéria minúscula
mas irradiante de luz,
mais preciosa que um diamante,
imensa luz,
inimaginável amor.

Vem, vidinha sem nome,
chega de leve
feito um sopro, uma canção,
ou chega de vez,
rompendo barreiras,
que este mundo é teu:
Faz a tua vontade.

sábado, 7 de maio de 2016

O POEMA

Ajuda — Stock Photo #78935710
Andrey_Kuzmin

O poema não resgata
a vida a ninguém,
primeiro postulado.

No entanto o fazemos
por amor, por saudade,
para homenagear, para
criticar,
com a esperança
de que modifique o mundo,
senão a algumas pessoas
iluminadas,
senão a quem o faz: o poeta.

O porquê
não o sabemos,
e, no entanto, cotidianamente,
pegamos o poema pela beca,
aprisionamo-lo no papel,
na memória,
com algum sentido,
isto é certo.


segunda-feira, 2 de maio de 2016

A QUEM INTERESSAR POSSA


Com o mesmo esforço
de pôr meu corpo sobre as pernas,
diariamente luto
por uma revolução.

Tento subverter as cabeças,
mas as novelas, a roupa da moda,
o novo modelo de geladeira,
o superávit na balança comercial
ou a mulher boa e o futebol
são moinhos gigantes;
e, como não sou Dom Quixote,
minha luta
nem graça tem.