Autor?
Penso na morte,
e penso como uma
obsessão.
Como se ela existisse,
concretamente,
uma figura, uma
mulher.
Muito melhor a morte
do que o nada,
o nada: escuro, frio,
infinito,
assim como o medo.
Espreito a morte, não
como o fim,
mas como o desejo de
todo mortal:
a imortalidade.
Sim, a imortalidade
estaria na morte
tal e qual a imaginou
Schopenhauer.
Imagino a morte
não como aquela figura assombrosa,
uma caveira, vestida de negro,
a ceifadeira à mão,
tirada de um poema da idade média
ou da pena de Gustavo
Doré.
Imagino a morte com o
rosto
da menina mais bonita
que amei em minha
infância,
e olha que amei a
muitas!
Aquela menina a quem
nunca tive
coragem de me
declarar,
pois, ou me faltavam
palavras
(e eram tantas as que
gostaria de
pronunciar, que se
atropelavam
umas nas outras),
ou as poucas que eu
conseguia balbuciar
saiam cansadas, de pernas
bambas,
era mais difícil do
que caminhar sobre muletas.
(Ah a poliomielite!)
Morte,
a mais linda menina de
minha infância,
de meus sonhos, de
minhas fantasias,
(ou as prostitutas
bonitas, de saias curtas,
pernas grossas e sorrisos fáceis
que eu ousava olhar,
apenas olhar,
pois o mais era pecado
e surgiam feito flores
em terreno fértil,
às nossas vistas da
ladeira da rua da zona
na cidade do Cabo de
Santo Agostinho,
onde Pizon descobrira
o Brasil
e eu o sexo)
mas já agora mulher,
os seios ferindo a
leve roupa
com que está vestida.
(Uma indiscrição:
a morte não usa calcinhas!)
Ao invés de ceifadeira,
a morte traz a sua mão
em oferenda à minha.
Um lindo sorriso
e uma boca de lábios
grossos,
tudo anuncia,
e, com gestos leves,
a morte me convida
a partirmos em viagem ao seu reino.
Existindo ou não outra vida,
ou sendo tudo um longo e eterno sono,
eu não sei,
sei apenas que foi uma
boa morte
e eu
gozei.
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