quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

O NASCIMENTO DA CANÇÃO


Esta canção nasceu,
não da vontade de ser eterno,
pois que em nome desta vontade
muito se morreu e muito se matou.

Nasceu da leitura de vários poemas,
que ler sempre será uma forma de nos alimentar.

Nasceu da leitura de um poema
cuja autoria é atribuída a Borges,
no qual o que ele menos queria
era ser Borges de novo.

Nasceu da leitura de
Um Livro Aceso e Nove Canções Sombrias,
de Joaquim Cardozo.

Nasceu da leitura de Manuel Bandeira,
em livro de bolso emprestado pelo primo Ítalo,
no terraço da casa de Gaibu,
saudades terríveis, iguais somente
àquelas que certas mulheres nos causam.

Nasceu, não da vontade de ser poeta
e conquistar todas as minhas amigas
com belos versos de amor,
que isto é muito pouco.

Nasceu, sim, daquela suprema vontade
que nos faz sentir vivo cada vez que uma palavra,
cada vez que uns versos são encaixados uns nos outros,
como perninhas de grilos, diria Quintana,
quando com palavras conseguimos transpor aquele momento
entre o caos, ou mesmo o nada, e a arte.

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