quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

ARQUIVO

Estudei piano no CPM,
Com a professora Eliana.
Contrabaixo com o primo Ítalo
e violão com o amigo Jairo.
Nada aprendi a não começar a perceber
Minhas limitações.

Cozinhar era proibido por minha avó Lídia.
Nunca pude dançar numa gafieira.
Sobrou apenas ler livros e escrever poemas.

Achava sempre que os outros era que mentiam
Mas já menti sobre o que não fiz,
Já contei vantagens,
Ostentei brilhantes que nunca possui.

Descobri que não sou melhor que ninguém
E que ninguém é melhor do que eu,
Apenas Chico Buarque e Manuel Bandeira.

Tinha manias de limpeza e de arrumação
manias, pensei que era TOC,
jamais deixar um disco fora da capa,
E por nada nesse mundo,
Abandonar um livro, recém lido, fora da estante.

Tímido, senti saudades do que queria e não conseguia fazer.
Ia sempre sozinho aos bares,
Nunca voltava acompanhado:
Apenas uma ou duas vezes.

Não tinha sorte no jogo,
Por outro lado,
nem no amor

Amava os cães, nunca os gatos,
E a maneira intensa com que eles
Me recebiam e davam amor.

Via o pôr do sol em Gaibu
Cheio de rum e Coca-Cola.
Silencioso, ouvia música e sons que só existiam
Na minha imaginação.

Um amigo de infância morrei de Aids,
Outro sumiu no tempo e no espaço.
Sonhávamos um mundo ideal e feliz,
Éramos guerrilheiro, um Che.

Envelhecemos,
Continuo a sonhar
Nunca entregarei as armas, nem meus desejos.

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