Estudei piano no CPM,
Com a professora Eliana.
Contrabaixo com o primo Ítalo
e violão com o amigo Jairo.
Nada aprendi a não começar a
perceber
Minhas limitações.
Cozinhar era proibido por minha
avó Lídia.
Nunca pude dançar numa gafieira.
Sobrou apenas ler livros e
escrever poemas.
Achava sempre que os outros era
que mentiam
Mas já menti sobre o que não fiz,
Já contei vantagens,
Ostentei brilhantes que nunca
possui.
Descobri que não sou melhor que
ninguém
E que ninguém é melhor do que eu,
Apenas Chico Buarque e Manuel
Bandeira.
Tinha manias de limpeza e de
arrumação
manias, pensei que era TOC,
jamais deixar um disco fora da
capa,
E por nada nesse mundo,
Abandonar um livro, recém lido,
fora da estante.
Tímido, senti saudades do que
queria e não conseguia fazer.
Ia sempre sozinho aos bares,
Nunca voltava acompanhado:
Apenas uma ou duas vezes.
Não tinha sorte no jogo,
Por outro lado,
nem no amor
Amava os cães, nunca os gatos,
E a maneira intensa com que eles
Me recebiam e davam amor.
Via o pôr do sol em Gaibu
Cheio de rum e Coca-Cola.
Silencioso, ouvia música e sons
que só existiam
Na minha imaginação.
Um amigo de infância morrei de
Aids,
Outro sumiu no tempo e no espaço.
Sonhávamos um mundo ideal e
feliz,
Éramos guerrilheiro, um Che.
Envelhecemos,
Continuo a sonhar
Nunca entregarei as armas, nem
meus desejos.
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