Às
mulheres de Kobane:
Perdoem-me
pela minha covarde ausência.
Beber umas piscinas olímpicas de
uísque,
outras de vinho e algumas de
vodka.
Como vivemos num país tropical,
amamos o mar e as tangas: beber,
um oceano de cerveja, apenas para
hidratar.
Ter amigos que adorem a noite, a
amizade e a magia.
Algum deles, com certeza, devem
tocar violão
e que todos cantem e dancem a
Baco e a Eros.
Conhecer o amor, a paixão e a sua
ausência:
a dor da solidão.
Trair e ser traído,
- quem não o foi, que atire a
primeira garrafa vazia? –
mas, nunca, mesmo diante da
morte, ser desleal.
Perceber que o sexo é tão puro
quanto ser criança;
uma nuvem de Szymborska
ou uma carreira de cocaína.
Amar e malamar, amar, desamar,
amar,
- não é, Drummond? -
os amigos, os amantes, os poemas,
os poetas, os perdedores, os
alcoólatras, as putas,
os viados, os aleijados, os
oprimidos...
Não apenas, mas principalmente
estes.
Nunca desistir do amor,
pois, que sem ele, o poeta trava,
enferruja,
torna-se burguês:
e o poema passa a usar paletó e
gravata italiana,
sob o sol escaldante do verão
nordestino.
Compreender que o dinheiro é um
deus cruel e poderoso.
Buscar a verdade que é o caminho
certo do ateísmo,
que é o caminho certo da
libertação.
Mas, se quiser crer num Deus,
que ele seja feito a imagem e
semelhança do oprimido.
Ser íntimo dos poetas mortos em
suas estantes,
em seus livros, em seu coração.
E dos vivos em sua cama.
Enfim, viver, intensa e
apaixonadamente.
Que o poema seja a tradução da
vida.
E o seu fazer, o seu lapidar,
a tradução da luta pela liberdade
e pela igualdade,
com as armas que nos oferecerem o
nosso tempo.
Não é mesmo, Che?