quinta-feira, 5 de abril de 2018

LEALDADE


Gostaria de ser fiel.
Estou sendo sincero,
gostaria sim, muito.

Mas a minha alma,
a minha essência, é de bandoleiro,
errante,
e meu coração e cérebro se processam
a mil.

Não, não, não,
não sou infiel à minha família,
parentes ou amigos,
estou sempre presente,
podendo ou não podendo,
curtindo ou me phodendo.
Não, não, não,
não sou infiel às minhas convicções,
por nada abriria mãos delas,
mesmo diante da morte
que é o nosso maior bem,
talvez o único.

Não, não, não, 
minha família, meus amigos,
mesmo aqueles apenas de mesa
de bar,
meus desejos, o álcool, a poesia,
minha confiança total no socialismo,
meu ateísmo que não quer convencer
ninguém, mas apenas viver em paz,
estão guardados, dentro de uma caixa,
feita de diamantes,
e incrustada no meu coração.

Não, não, não,
não posso colocar a culpa da
minha infidelidade apenas na genética,
ou posso?

A beleza, a arte, o carinho, o encanto,
o mimo, o despertar fazem renascer
a química do amor, do desejo e do sexo.

Como gostaria de ser fiel
- nem mesmo deus sabe dos meus segredos -
pois ele não existe.

Talvez a arte, a poesia, a visão,
o olfato, ah o olfato...
Casado, não consigo deixar de me apaixonar,
quase que diariamente, por um poema
- ou uma mulher -
que sorri, que olha, que passeia:
em busca de agrado, de carinho, de amor, de felicidade.

Horror, horror, horror!
- obrigado, Shakespeare -
como gostaria de ser fiel,
apesar de ser leal.

Nenhum comentário:

Postar um comentário