quinta-feira, 30 de abril de 2015

O POEMA ENGAJADO OU INTERROMPENDO O CAFÉ



Pela manhã,
entre fatias de pão torradas
geleia de morangos,
penso num poema contra a fome.

Pela manhã,
entre um copo de leite
e queijos,
sinto-me hipócrita
e, de repente, perco meu apetite,
pequeno burguês.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

MEDIDA


O poema deve ter a medida certa,
deve servir ao seu tempo,
             estar vivo
             e ser real.

O poema, pelo menos nos dias de hoje,
não deve sonhar,
mas lutar,
que suas palavras,
quando lidas em voz alta
             pelos oprimidos,
penetrem nas cabeças
dos ouvintes
e lá se alojem como balas.

Mas o poema não deve matar,
e sim impedir a morte,
e sim impedir a injustiça.

poemanos dias de hoje,
deve ter a medida certa,
             exata,
             como o metro.


quinta-feira, 16 de abril de 2015

O SEGUNDO SENTIDO


A tua simples visão extasia-me
como o vinho
bebido em grandes goles
             à noite,
no colo de jovens mulheres
que sabem amar.

É preciso que haja lua
e o som de instrumentos
             e vozes me animem.

Os amigos devem estar presentes.
Não devemos pensar na alma,
não se falará dos homens
             que sofrem.

Apenas o corpo
e sua transitoriedade,
o corpo e seus prazeres,
apenas o gozo.

Só assim posso comparar
a emoção de meu ser
que através dos meus olhos
             te avista
ao longe,
confundindo-te com o leviano vento
que te toca
com suas mãos de pluma.
Oh maldito!


quinta-feira, 9 de abril de 2015

ESPETÁCULO


O tempo cai lentamente
como uma cortina sobre o palco,
encerra-se o espetáculo,
o dia cede o lugar à noite,
e, no Beco da Fome,
onde algumas meninas
nos olham das janelas,
um bêbado cansado de tentar
andar em linha reta,
dança.


quinta-feira, 2 de abril de 2015

GEOMÉTRICO


A linha
metricamente contorna
o horizonte.

O homem
metricamente vê
a linha
pelos seus olhos
geométricos.

O homem geômetra
vê as formas
geométricas
da linha que contorna
o horizonte.