sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

NA ROTINA DAS MANHÃS

Na rotina das manhãs,
       o mesmo rosto no espelho,
       o mesmo jato de urina,
       o mesmo cheiro.

O pão, a manteiga, o café.
O mesmo poema cansado,
o mesmo livro debaixo do braço,
a mesma vontade matinal de ir ao banheiro.

No amor mal feito,
       no desejo esquecido na esquina,
       no grito – de gol? – amarrado no peito,
       na dose de estricnina – para o amante ou o rato?

Na carne estragada na geladeira,
       no copo de cerveja quente,
       no sol que racha minha cabeça,
       no tempo perdido na máquina batendo um ofício


ao Exmo. Sr. Filho da Puta,
       no romance não lido de Loyola
       na solidão sempre lembrada e eterna
- Deus?

Caminho – inútil caminhar? – homem metafísico
       através da manhã e do poema,
       entre o ser genético e seus códigos
       e o ser divino e o horror da eternidade.

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