Na rotina das manhãs,
o mesmo
rosto no espelho,
o mesmo
jato de urina,
o mesmo cheiro.
O pão, a
manteiga, o café.
O mesmo poema cansado,
o mesmo livro debaixo
do braço,
a mesma vontade matinal de ir ao banheiro.
No amor mal
feito,
no desejo esquecido na esquina,
no grito – de gol? – amarrado no peito,
na dose de estricnina – para o amante
ou o rato?
Na carne
estragada na geladeira,
no copo de cerveja quente,
no sol que racha minha cabeça,
no tempo perdido na máquina batendo um
ofício
ao Exmo. Sr.
Filho da Puta,
no romance não lido de Loyola
na solidão sempre lembrada e eterna
- Deus?
Caminho –
inútil caminhar? – homem metafísico
através
da manhã e do poema,
entre o ser genético e seus códigos
e o ser divino e o horror da eternidade.