Tomo um gole
cavalar de uísque com gelo.
Arrepio-me e
penso:
o soma de
Huxley... Sorrio.
Busco assim te
esquecer,
mas, nada
adianta.
Estais em meu
corpo, em meus poros,
nas lembranças
de todos os meus fluidos
e aromas.
Em minha
memória e no meu esquecimento:
tinta que
mancha o papel;
diamante que
corta o vidro;
aroma de petrigrain que
invade e limpa meus pulmões.
Os poucos
poemas que escrevo, nascem a fórceps.
Deixam-se
assim capturar no anseio de que não
abram-se para
mim as porta da loucura.
Sou grato!
Repetem eles,
sessenta e duas mil vezes,
em vozes
altas,
um mantra: Ela
voltará! Ela voltará! Ela voltará!
E em forma de
sussurro, respondo ou pergunto:
será? Ela,
onde está agora?
Impregnada em
minhas lembranças,
em minha
visão.
Tenho os olhos
vazados para tudo o mais.
Em minha
cadeira de rodas e obsessões cotidianas,
persigo-te,
atriz, em teus filmes, em tuas novelas,
como um vilão
mentecapto.
Enquanto ganho
pouco, e trabalho muito, em coisas que não me realizam,
navego na
selva do trânsito e no excesso de bromazepam;
no meu velho
carro e no cartão sem limite;
penso em
coisas que nada tem a ver com o meu – nosso? – amor.
Procuro
distrair-me, enganar meu cérebro,
minhas reações
químicas,
minhas
lembranças holográficas.
A salvação não
está visível,
sombras e
vultos se avistam,
a tua não
presença
tem vida
própria, alma,
é palpável,
e vive a
assombrar-me,
um sinistro
riso de desdém,
com sádico
prazer.
Fantasmas,
vultos, espectros,
pesadelos dos
quais não me acordo,
e que insistem
em se mostrar, em se sonhar.
Olho aflito a
garrafa vazia de uísque
onde me banho,
me entorpeço, me alieno,
para tentar
ser o que sou,
sem abandonar
o espetáculo,
- palhaço -
antes do seu
final,
com um tiro no
peito,
- Maiakovsky?
–
que não
constava do script.
A bomba de
Hiroshima,
o estupro
de Nanquim,
o holocausto
judeu,
o holocausto
palestino,
a covardia de
Pinheirinhos...
Nada me tira a
tua imagem sorrindo, gargalhando,
nua com o copo
à mão
e um poema a
se desenhar em teu corpo,
cada vez que
te despia.
Neve, o teu
rosto branco, e sorrisos, e dentes.
Vermelha, a
cor da tua boca e mamilos e vagina.
O doce e meigo
carinho,
os afagos
amigos, os abraços de compaixão,
para os que
choram, para os que amam
para os que
não amam.
Para os
indefesos,
para os
animais, nossos irmãos.
Revolto-me e
grito,
um grito que
se ouvirá silenciosamente
pois grito
para mim:
por que me
assombras, atriz,
no momento em
que minha vida
esta se pondo,
feito o sol
no oeste?