REVOLUÇÕES

Há homens que são capazes

      de revoluções a(r)madas:

       Che.

Homens capazes de revoluções

       desarmadas:

       Jesus.

Outros que apenas preparam

       o caminho, mas não menos revolucionários:

       João Batista, o precursor.

Outros capazes de revoluções

       pela canção: Francisco de Assis,

       e outro Chico, o Buarque.

Outros de revoluções

       pelas palavras: Ferreira Gullar.

Outros, anônimos homens,

       capazes de revoluções diárias:

       o Viver.

Há mulheres capazes

       De revoluções a(r)madas:

       Olga.

De revoluções pelo amor

       fraterno:

       Maria.

De revoluções pelo amor-eros:

       Cláudia,

       subversiva em meu corpo,

       em minha vida.

RECADO AO POETA APRENDIZ

A poesia é força,

Dá o seu recado de cara,

No improviso,

Feito artista mambembe.

Não enrola a língua.

Só de quem não a quer

No seu papel.

Não há truques ilusionistas,

Artefatos eletrônicos,

Efeitos especiais ou colaterais.

A poesia diz no ato

O fato.

CANTIGA PARA QUEM DORME

Quando dormes,

tua beleza se compara

a quando sorris,

e ninguém vive sorrindo

sempre,

na vida.

Por isso teu sono

velo,

sempre.

DÚVIDA OU AÇÃO CORROSIVA DO TEMPO

Praia de Gaibu-PE

Pela manhã,

enquanto olhávamos o mar

- a verde água, teus olhos negros –

e a brisa acariciava nossos corpos,

eu implorava ao deus

ser eterno aquele momento,

feito a presença de uma dor.

Hoje,

- quanto tempo depois? –

guardo apenas a tua lembrança

e a daquele instante

neste pequeno poema,

fadado à gaveta?

THE DANCE – MATISSE

Dançam

róseos corpos

de machos e fêmeas

com suas cabeleiras negras

de onde supomos seus sexos,

apenas uma figura apresenta

seios volumosos.

As mãos estão dadas.

São anjos ou almas

recém desencarnadas,

pois dançam nus e não sentem

vergonha ou pecado.

Parecem não estar excitados

mas que a excitação só conhecemos

de poucas maneiras

e seus mistérios são muitos,

como o êxtase.

Por fim, tem como palco

um tapete de terra verde

e um céu azul de fundo,

mas de um azul intenso

que não conhecemos.

GÊNESIS

Wilhelm Reich

Dorme no paraíso o homem.

Ainda em estado de gestação,

o mal sendo-lhe adicionado em pequenas

porções.

Dorme o homem e sente-se só.

Sonha com algo que não conhece,

mas sente e se
enrijece.

Dorme o homem

e o deus-operador

de uma sua costela,

uma simples porção

faz a verdadeira revolução sexual,

velho Reich:

A mulher.