sexta-feira, 31 de julho de 2015

POÉTICA IV


Não há mais clima para o Poema-Amor.

O momento é para cantar a vida,
o Poema-Vida,
e a vida é miséria e injustiças,
e mais miséria e torturas.

O momento é para o Poema-Verdade,
e a verdade
é esse país de famintos.

Não há mais clima para o Poema-Alegria,
o momento é para o Poema-Mágoa,
para o Poema-Tédio, o Poema-Murro.

O clima é para o Poema-Luta.

Abaixo o Poema-Poema!


sexta-feira, 24 de julho de 2015

EIS QUE VENHO SOLTO

Van Gogh

Eis que venho solto
vida adentro, ventre
com meus braços largos
num gesto tímido mas sincero.

Eis que o vento sopra
entre o mormaço quente
e a fria ausência
traspassando lento e sempre.

Eis que se anuncia o fim,
badaladas, acenos, lenços
e as paixões já resfriadas
cavalgam de leve as planícies.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

DECLARAÇÃO


Só um porre para esquecer
a falta de lua
e a distância do teu corpo,
como as distantes estrelas
       em mutações.

Só um porre para esquecer
que entre mim e ti
há uma infinidade de razões
       medievais.

Que morra a inteligência
       e a razão.

Só tu e teu sexo.


sexta-feira, 10 de julho de 2015

O ESPELHO


Dispersos, caminhávamos de mãos dadas,
outras vezes apenas o olhar nos reunia.

O meu coração era como a mão do guerreiro,
eras tu a minha arma.

O guerreiro ama a sua arma
como um deus à sua criatura.

Eu te moldara dispersa,
por isso amavas o silêncio na sua essência
e nos seus mais vulgares momentos.

Dispersos,
caminhávamos livres, como se fôssemos
o fogo,
eternos como o pássaro fênix.

As tardes e seus tédios
não nos pertenciam,
tal a Via Láctea. 

Um dia paramos
e nos vimos defronte do Espelho
qual o Livro da Verdade.

Hoje as minhas mãos não tocam as tuas.

Oh pesadelo a existência!


sexta-feira, 3 de julho de 2015

NOITE


Do alto dos seus óculos
me olha meu avô
- seus olhos me perseguem
como os da Monalisa –
desse velho retrato na parede.

Minha avó em sua cama
dorme, com seus setenta anos,
um sono de criança.

Contemplá-los
é como assistir a um filme
em preto e branco,
quando  se sabem velhos
os heróis que se amam
com os corpos e corações.